terça-feira, 28 de dezembro de 2010

2010

Eu tenho frequentado muito o twitter, e percebi que o pessoal tá falando de 2010, então acho que vou falar um pouco também, eu sei que aqui ninguém vai ler, mas é mais pra eu não perder o foco das coisas importantes quando precisar.
Então vamos lá... 2010.

2010 foi o ano em que eu aprendi que ser você mesmo nunca é ruim, e que se alguém tem problema com isso, o problema é dela.
2010 foi o ano em que eu aprendi que nerd também faz exercício.
2010 foi o ano em que eu fiz minhas primeiras tatuagens.
2010 foi o ano em que eu mudei praticamente todos os meus planos de futuro.
2010 foi o ano em que eu percebi que nem eu sou tão ruim assim.
2010 foi o ano em que eu aprendi que os melhores amigos não são aqueles que estão lá pra rir com você, mas os que estão dispostos a dar bronca em você quando você erra, e a te ajudar a acertar de novo.
2010 foi o ano em que eu aprendi que gostar de algo que a maioria das pessoas acha tosco é ok.
2010 foi o ano em que eu aprendi que se eu quero que algo mude, eu tenho que largar mão de ficar preocupado com isso.
2010 foi o ano em que eu aprendi que certas coisas sempre vão ser legais, mas só com as pessoas certas elas vão ser únicas.
2010 foi o ano em que eu perdi 7kg em seis meses só pra jogar na cara da minha mãe.
2010 foi o ano do começo do meu futuro.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Eu sou aquele que sai das trevas, todo sobretudos, cigarros e arrogância, pronto para lidar com a loucura. Oh, eu tenho tudo resolvido. Eu posso te salvar. Mesmo que isso custe a última gota do seu sangue, eu vou afastar os demônios. Eu vou chutá-los nos colhões e cuspir neles enquanto estão no chão. E então, eu vou voltar para as trevas, deixando apenas um aceno, uma piscadela e uma piada sarcástica. Eu sigo meu caminho sozinho... Quem iria querer andar comigo?" John Constantine

domingo, 5 de dezembro de 2010

As Ruas da Filadélfia

Eu estava ferido e cansado e não conseguia
dizer o que eu sentia, eu estava
irreconhecível para mim mesmo.
Eu vi meu reflexo na janela e não
reconheci meu próprio rosto, oh irmão,
você vai me deixar definhando
nas ruas da Filadélfia?

Eu caminhei pela avenida até minhas pernas
parecerem pedra, eu ouvi
as vozes de amigos desaparecerem e sumirem
e a noite eu podia ouvir o sangue nas minhas veias
tão negro e sussurrante como a chuva
nas ruas da Filadélfia.

E nenhum anjo vai me acolher
somos só eu e você meu amigo
minhas roupas não me servem mais, eu andei
mil milhas apenas pra escapar dessa pele.

A noite caiu e eu estou deitado acordado, eu posso
sentir a mim mesmo desaparecendo
Então me receba, irmão, com seu beijo infiel
ou nós vamos nos deixar sozinhos assim
nas ruas da Filadélfia?

(essa é a tradução de uma música do Bruce Springsteen que chama Streets of Philadelphia [dã!], pra mim é a música mais triste já feita. Só queria compartilhar com vocês.)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

That's what friends are for.

Esse vai ser possivelmente um dos posts mais piegas daqui, mas eu estava com ele na cabeça faz tempo e acho que não vai ter problema um pouco de pieguice.
Vou usar esse espaço pra agradecer algumas pessoas, nenhuma delas da minha família, todas elas mesmo com maior ou menor contato, têm uma importância atroz na minha vida, essas pessoas são chamadas no senso comum de 'amigos'.
Acho legal falar de cada um separadamente, ainda vou dizer isso a eles cara a cara, mas eu andei revendo alguns aspectos da minha vida e receei que talvez nunca tenha dado a eles (ou demonstrado a eles) o valor que eles têm pra mim, e portanto, vou fazer isso agora:

Andrei
: Não tem muito o que falar, meu amigo mais antigo, apesar de que a gente não tenha tanta chance de se ver devido à distância, mas ainda assim um cara que cada vez que nos vemos eu sempre me surpreendo em como podemos ser autênticos um com o outro, ele é um pequeno ogro que eu gostaria de ter do meu lado numa briga (até porque é um dos poucos que eu acho que aguentaria o tranco), faltam palavras pra expressar a amizade desse cara, sempre sincera e honesta, nunca pedindo nada, muito obrigado por ser um dos meus melhores amigos. De verdade.

Estênio: Se não tem o que falar da amizade com o Andrei, como teria da amizade com o Estênio? Um dos meus amigos mais próximos, um cara em quem eu sempre confiei e que sempre confiou em mim, passamos por tudo juntos, de fossas a epic wins, e é possivelmente o cara mais 'pai' entre os meus amigos. Aquele sermão na casa do Anderson vem à mente, bem merecido diga-se de passagem, foi naquele dia que me dei conta da sorte que tenho em ter conhecido certas pessoas, e você foi uma dela, nós não falamos a mesma língua, nós tocamos a mesma música, e é Iron Maiden.

Alex: Foi de alguém com quem eu não simpatizava de jeito nenhum a meu amigo inseparável no colegial inteiro simplesmente por zuarmos o Róger ao mesmo tempo, o que resume bem nossa amizade, poucas pessoas chegaram a me entender como você, nós não precisavamos conversar, bastava olharmos um pro outro pra entendermos o que fosse necessário, sempre ajudando o outro, sempre zoando o outro, sempre um e o outro.

Guto: Uma das amizades que eu me arrependo, porque apesar de fazer tae kwon do juntos por mais de dois anos, fomos nos tornar amigos de verdade só depois que os dois já nem treinavam mais. Meu futuro tatuador pessoal, um cara tão sincero que não consegue nem fingir quando está bravo ou triste com alguém, profundamente autêntico, não importava o que isso pudesse trazer para ele. Outra pessoa que eu confio pra ficar do meu lado numa briga, por que é outra que deve aguentar o tranco. Se bem que o mais provável é que você comece a briga e eu que tenha que ajudar...

Anderson: Outro meio 'pai', até por ser um pouco mais velho, o que rolar alguns dados não faz né cara? Uma bela amizade, já tem uns 6 a 7 anos, outro cara sincero que não se furtou a me dar bronca sempre que mereci, agradeço muito sua companhia, uma pessoa que não hesitou em oferecer uma mão sempre que considerou preciso, mesmo que no final fosse preciso o braço, você continuava lá, outra amizade que carrego com muito respeito.

Estagiário: Simpatia. Difícil definir de outro jeito. Uma amizade que aconteceu rápido e se mantém, por mais que ele insista em fugir para Piquete every now and then. Pessoa fácil de conversar e mais ainda de gostar, um cara simples e nerd que está sempre lá quietinho pra quando você precisar de ajuda. Mesmo que você não peça.


Faltam alguns, eu sei bem, mas eu estava com preguiça e queria postar isso logo.
"On the good times and bad times, I'll be on your side forever... That's what friends are for."

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um (longo) trecho de alguma coisa...

- Eu sabia que ia te achar aqui... - A voz soou aliviada e ofegante, seguida de passos que caminharam até a borda do terraço, se aproximando de um vulto sentado.
- Poxa cara, todo mundo está procurando você que nem um louco, pra que sumir assim? - A voz continuou, parando ao lado do rapaz sentado no parapeito.
- Eu precisava pensar, ficar sozinho por um tempo... - o garoto sentado respondeu sem desviar o olhar da cidade que se estendia a partir do prédio, o sol se pondo emoldurava os edifícios altos e os vários tons de cinza, criando um contra-ponto entre beleza e frieza. - Você deixou a porta do acesso aberta, Jack. - ele continuou, virando seus olhos verdes e expressivos para olhar Jack.
Jack suspirou impaciente, indo fechar a porta, não adiantava, Josh era assim mesmo, Jack voltou e se sentou ao lado de Josh, contemplando a a cidade com ele.
- Porta fechada. - disse Jack, olhando para a cidade. - Agora você vai me falar porque sumiu assim cara? Todo mundo está desesperado procurando você, a Lex não para de chorar... - Jack continuou, virando-se para olhar Josh.
Josh se virou para Jack, Jack examinou seu amigo, diabos, seu melhor amigo. No alto daquele terraço, um jovem de aproximadamente 26 anos, pele clara e lisa, cabelos lisos penteados displicentemente, olhos verdes, altura média e esguio, vestido com uma camisa de mangas dobradas próximas do cotovelo, jeans e tênis, olhava de volta para ele, então Josh olhou pra baixo, parecendo desanimado.
- Ela chorou? - Josh deu um sorriso triste. - Estou indo cada vez melhor nisso então... - ele continuou, pegando uma garrafa de bolso e dando um longo gole.
- Josh? Cara, me conta o que aconteceu...
- Isso aconteceu cara. - disse Josh, estendendo uma folha de papel para Jack.
Jack pegou a folha curioso e a leu de cima a baixo três vezes, depois olhou para Josh.
- Quando? Como? Como assim você foi aceito como enviado de guerra? - Jack falou assustado.
- Eu me candidatei para isso no site dessa agência faz dois anos, aparentemente eles viram minhas reportagens e acharam que tenho potencial para ser mandado para Israel... E essa carta chegou quando eu não estava em casa.
- Ou seja... - Jack começou lentamente. - Quem viu isso foi a Lex?
- Isso. - confirmou Josh, dando outro gole na garrafa. - Quando cheguei em casa, ela estava chorando e me perguntando porque eu queria aquilo, não tive tempo de explicar que isso é de antes de nós nos conhecermos.
- E porque não esperou ela se acalmar, e explicou pra ela a situação? - Jack perguntou, pegando a garrafa da mão de Josh e dando um gole.
- Porque eu não sei o que fazer... - Josh riu. - Tanta coisa mudou desde que eu mandei essa carta pra eles, dois anos atrás, que eu não sei o que fazer... Não sei se devo aceitar ou recusar...
Jack assentiu em silêncio e devolveu a garrafa para Josh, os dois olhavam para a cidade enquanto conversavam...
- Eu nunca te entendi, sabia? Somos amigos há o que, 16 anos? E eu nunca consegui entender você... - disse Jack, puxando um maço de cigarros do bolso da camisa.
- O que você quer dizer? - Josh perguntou, virando-se para Jack interessado.
- Bem... - Jack fez uma pausa para acender o cigarro. - Desde crianças, você foi sempre o primeiro em tudo, lembra? Quando um barranco era muito alto pra pular, você era o primeiro a se arriscar, quando a neve chegava, você era o primeiro a descer o declive mais alto de trenó, foi o primeiro a brigar com alguém... praticamente tudo que podia ser minimamente perigoso, você fez antes de todo o resto da turma sabe? - Jack continuou, oferecendo o maço para Josh e depois colocando-o sobre o parapeito. - E eu sempre me perguntava: Como ele consegue não ter medo? Eventualmente eu conclui que você gostava de correr o risco, que era o próprio perigo que te compelia, mas nunca entendi o porque disso... - Ele sorriu, soprando a fumaça. - Daí você se tornou repórter e eu pensei "bem, agora ele vai sossegar, vai parar de ficar pulando na cova dos leões por esporte..." Mas ledo engano, hein? Você virou repórter policial e já escapou de pelo menos três tiroreios... E eu continuo sem te entender cara...
Josh sorriu e recusou o cigarro, suspirou e olhou para Jack.
- É o perigo mesmo cara, isso me move, desde pequeno eu gostava de correr riscos; jornalismo policial, brigas em bar, tudo foi pra sentir a possibilidade de algo dar errado, pra fazer minhas apostas... - Josh olhou pra cima, depois continuou - Mas hoje, pela primeira vez, quando vi aquela carta com a notícia que eu mais queria receber dois anos atrás, eu não senti excitação, senti medo... Eu não entendi o que aconteceu cara... Isso e a reação da Lex e eu vi que precisava pensar, daí vim pra cá, sabia que só você ia lembrar da nossa época de colegial matando aulas aqui, se você não me achasse, ninguém acharia.
- Será que você ficou com medo de morrer? Será que foi esse medo que você sentiu? - Jack então parou, percebendo que Josh até agora não pegara um cigarro, e olhou para o amigo sobressaltado. - Porque não pegou um cigarro??
- Parei de fumar, velho amigo, Lex pediu para eu parar, ela não queria que eu acabasse morrendo de repente por causa do cigarro. - sorriu Josh.
- Ela te fez parar de fumar? - Jack sorriu, soltando um assovio. - Essa garota realmente te pegou hein cara...
Josh assentiu lentamente, sem proferir palavra alguma.
O punho zunindo se chocou contra o queixo de Josh, jogando-o de costas no chão do terraço, ele parou atônito, tentando em vão focar a visão, quando viu Jack aparecer de cabeça para baixo diante de seus olhos.
- Mas o que... Por que diabos você fez isso, seu bastardo? - ele perguntou, endireitando o corpo e se levantando lentamente.
- Porque você merecia, seu grande cretino. - Jack sorriu, ajudando Josh a se levantar. - Você mereceu por ser um estúpido, foi por isso.
- Ãhn? - Josh levantou uma sombrancelha, se apoiando no parapeito com as pernas trêmulas.
- Se eu te dissesse que você vai morrer daqui a um mês, o que você me diria? - Jack perguntou, apoiando-se no parapeito.
- Foda-se, e daí?
Jack jogou o cigarro no chão e sorriu.
- Mas e se o que eu te dissesse fosse que a Lex vai morrer em um mês?
- Eu ia querer saber como você sabe, o que eu poderia fazer pra impedir, eu não ia deixar isso acontecer nem que tivesse que trancá-la no apartamento pro resto da vida. - Josh respondeu com simplicidade.
Jack sorriu de novo.
- Aí que está, seu imbecil, o porque de você ter sentido medo, não foi por você, foi pela Lex, sua mentalidade emocional é tão desenvolvida quanto a de uma caixa de fósforo meio usada.
ele se aproximou de Josh e explicou pacientemente.
- Você nunca sentiu medo por você e continua não sentindo, mas agora que você está com a Lex, você sente medo por ela, medo de perdê-la ou de deixá-la sozinha, você agora não vive mais só por você, é isso que te confundiu. Cara, ela foi capaz de te fazer parar de fumar, você tem noção de o quanto você tem que gostar dela pra isso acontecer? O quanto você tem de amá-la??
Josh limpou um filete de sangue que escorria de sua boca, olhando fixamente para Jack.
- Acho que isso também responde sua pergunta sobre ir ou ficar. - concluiu Jack com um sorriso, no tom de voz de um professor que explica algo óbvio, mas que a princípio o aluno não via.
Josh arregalou os olhos e sem proferir palavra alguma correu porta afora, deixando Jack com um sorriso vitorioso nos lábios a olhar para a porta por onde ele saíra.

A luz do dia tinha acabado a quinze minutos e o quarto estava numa penumbra depressiva, ainda assim ela não sentira vontade de levantar daquela cama e acender a luz, ela só conseguia sentir medo; medo de que ela tivesse reagido do jeito errado, medo que tudo fosse por água abaixo, tinha medo de ele decidir ir por causa da reação dela, tinha medo de ele acabar morrendo no meio da guerra, tinha medo, pura e simplismente tinha medo...
Apertada entre seus dedos estava o envelope da carta, a maldita carta que chegara para causar aqueles problemas, agora Josh estava desaparecido, com Jack procurando por ele e ela ali sentada, esperando ele aparecer... ou Jack aparecer falando que não tinha encontrado nada...
A porta abriu de repente, a luz foi acesa e Josh estava ali, olhando para ela sentada na cama com o envelope apertado entre as mãos e os olhos inchados de tanto chorar, ela se levantou de sobressalto quando ele entrou.
- Lex? - Josh perguntou timidamente.
Ela se atirou contra ele, os braços enlaçando seu pescoço, jogando uma nuvem de cabelos na frente dos olhos de Josh, o corpo de Lex tremia convulsivo e ela apertava o seu corpo fortemente contra o dele.
- Desculpa Josh, eu não tenho o direito de te dizer o que fazer. Eu só fiquei com medo... - ela falou, sem soltar os braços do pescoço dele.
- Tudo bem, eu entendo Lex, entendo mesmo... - Josh falou, abraçando-a forte e beijando o lado do seu pescoço. - Pode me dar o envelope?
Ela se afastou dele, entregando a ele o bolinho de papel que já fora um envelope oficial da maior agência de comunicações do país, ele o pegou, juntando-o à carta que tirou do bolso, puxou um isqueiro antigo de outro bolso e acendeu o papel, jogando-o no cinzeiro sobre o criado-mudo.
- Josh!!!? - ela se assustou. - O que está fazendo? Aquilo é o seu sonho..
- Eu não preciso de um sonho se tenho você na minha realidade, Lex...
- Você ficou com medo de ir pra guerra?
- Fiquei com medo de deixar você sozinha e fazer você chorar mais...
- Mas porque você fez isso?
- Porque eu devia ter feito isso logo que a carta chegou.
Ele a abraçou, beijando seus lábios, então sorriu.
- Foda-se todo o resto, Lex, você é tudo que eu sou...

No terraço, Jack ainda bebia e fumava, sentado no parapeito. Soprando a fumaça para o alto ele riu e cantarolou:
- Talk of better days that are yet to come, never felt this love from anyone... she's not anyone!
Alguém xingou, e o barulho de uma garrafa se despedaçando foi seguido de uma risada que foi morrer de encontro ao céu noturno.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Cidade dos Condenados. - capítulo 1

"... My name is Jimmy and you better not wear it out, suicide commando that your momma talked about..."
A música foi interrompida quando uma mão puxou o fone, Tommy olhou levemente sobressaltado quem o fizera e encontrou um garoto mais baixo que ele, com uma mão no bolso e roupas folgadas, que olhava de volta pra ele e gritava algo que ele não conseguia entender.
- ...tudo logo filho da puta... na sua cara...
Tommy apertou os olhos e se concentrou na voz do garoto, tentando divisar o que ele dizia.
- Passa tudo logo, filho da puta! Ou vou te dar um tiro na sua cara!
Tommy levou mais um instante olhando bem para o garoto, então suspirou e tirou lentamente o celular do bolso da calça, quando estava quase entregando para o garoto, o celular escorregou das suas mãos...
- Porra! - o garoto exclamou, e se abaixou rapidamente para pegar o celular.
Tommy agarrou o garoto pelo colarinho e pela cintura da blusa e o jogou com violência com a cabeça contra o muro ao seu lado, o barulho do baque alto e de um palavrão abafado foram cortados pelo som do pé de Tommy se chocando com o peito do garoto no chão, antes do garoto poder tentar uma reação, o pé de Tommy voltou a se chocar, dessa vez contra o rosto do garoto caído, e de novo, e de novo, e de novo...
Tommy ouviu um tropel de pés, olhou o garoto inerte e se abaixou para examinar o corpo, no bolso em que ele mantivera a mão havia mesmo uma arma, um revólver, Tommy o pegou e se levantou, virando para ver o que era aquele tropel de pés.
Um homem bem maior que o garoto vinha correndo para ele, com uma pistola na mão ao lado do corpo, ele brecou quando viu Tommy apontando a arma para ele.
- Woah, garoto, você não quer fazer nenhuma besteira, eu só quero ver se meu amigo está bem...
Tommy sorriu, mas não havia felicidade no sorriso.
- Seu amigo? Este verme aqui? Sinto muito parceiro, seu amigo não está mais com a gente.
- Você, você o matou? - o outro pareceu assustado.
- Ah sim, você é alguém pra falar, correndo armado pra cima de um garoto de dezoito anos...
O homem pareceu assustado, mas logo enrijeceu sua expressão e olhou firme para Tommy.
- Você escolheu as pessoas erradas para zoar, garoto, nós não temos nada a perder!
Um estrondo de tiro, um silêncio tenso e o barulho de um corpo caindo no chão molemente.
- Eu também não. - sorriu Tommy.
Ele olhou para o garoto que começara tudo, ele ainda tremia com o rosto destruído e chorando lágrimas misturadas com sangue e muco, e gemeu alto quando Tommy o pegou pelos cabelos.
- Vou te ensinar uma lição, bastardozinho, você vai gostar. - Tommy vociferou enquanto arrastava o garoto que chorava e tentava falar com os dentes quebrados. - Põe a boca aí na guia, filha da puta! Põe ou eu vou pintar a porra da rua com os seus miolos!
O garoto ainda chorava enquanto lentamente colocava a boca no meio-fio, ele terminou de pôr e ouviu Tommy dizer:
- E é assim que você educa um escrotinho. - E Tommy pisou na nuca do garoto, fazendo a calçada ficar empapada de sangue.
Tommy sorriu, jogou a arma no chão e foi embora, jogando o capuz sobre a cabeça para esconder o rosto...

Tommy caminhava tranquilamente para a casa abandonada nos arredores da pequena cidade, vários jovens se agrupavam ao redor e dentro da casa, bebendo, pixando, se drogando ou só rindo, um deles o viu chegando e sorriu.
- Tommy chegou!
Os outros riram e gritaram saudações para o garoto, havia ali várias pessoas que eram até seis anos mais velhas que Tommy, mas ele exercia uma espécie de magnetismo, as pessoas se sentiam compelidas a segui-lo.
Tommy passou cumprimentando todos, entrou na casa e subiu até o último andar, lá entrou num quarto com todas as paredes pixadas, várias palavras de ordem e gritos de rebeldia escritos pelas paredes, jogado em um canto havia um colchão de casal onde dormia uma garota de costas para a porta, de resto o quarto estava vazio, ele passou pelo quarto e entrou no banheiro, lá lavou o rosto e olhou no espelho. Do espelho, um rapaz de dezoito anos o encarava de volta, olhando fundo nos seus olhos verdes emoldurados por um rosto pálido, encimando tudo isto estavam cabelos negros e desgrenhados, o corpo magro com tatuagens e piercings em vários lugares completavam a figura; o rapaz no espelho olhou para ele e sorriu, vestido com uma jaqueta militar sobre uma regata com frases de rebeldia, jeans surrados e rasgados, correntes penduradas nos bolsos e um par velho de all-stars. Aquele era o uniforme daquela geração, e aqueles lá embaixo eram o exército da juventude.
Tommy saiu do banheiro caminhando devagar para encontrar a garota de pé apoiada na janela e olhando para ele. Ela era bonita, cabelos ruivos caindo em cascatas pelos ombros, olhos azuis cristalinos, rosto pálido e delicado, piercing na sombrancelha esquerda e no lábio, usando uma jaqueta de couro fechada e um jeans rasgado, botas nos pés, partes de uma tatuagem escapando no pescoço, ela o encarou e disse:
- Eles já começaram a farrear, estavam esperando você.
Tommy sorriu e caminhou até a janela, lá embaixo, o "exército da juventude" gritava:
- Tommy! Tommy!
Ele sorriu e se virou para a garota, ela sorria e o abraçou dizendo:
- Você é o messias deles.
Ele sorriu de volta. Aquele era o rebanho dele, a juventude selvagem... E logo ela seria liberta...

terça-feira, 8 de junho de 2010

True hapinnes lies in isolation.











Para quem não entendeu o título: A felicidade verdadeira jaz no isolamento.

domingo, 6 de junho de 2010

Inspiração inesperada

Onde procurar tudo que falta em ti?
E se encontrar, ao completar-se não deixará de ser quem é?
O que procurar quando não se sabe o que deseja?
Qual o objetivo de uma alma sem ambição?
Se a música parar de tocar, vai virar o lado do disco?
Seria capaz de perceber que a melodia cessou?

Porque se agasalhar num dia frio, se é essa sensação que te garante que está vivo?
Se o vento soprar em seu rosto, não se sentirá bem?
Como escrever, quando não tem o que falar?
Onde buscar algo que nunca soube como usar?

Felicidade é um maço de cigarros e uma caneca de café.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A diferença entre fazer uma boa série e não fazer

Hail, faz tempo que não postei no blog. Não foi por preguiça, eu não conseguia achar um assunto cool pra comentar, e esse pensamento veio depois de ver a Season Finale (magistral, por sinal) de Supernatural.
Eu baixei os episódios, não aguentava esperar uma semana pra ver cada um, e mesmo assim demorei muito pra terminar, mas posso dizer que valeu cada segundo com a bunda pregada na cadeira no computador assistindo ao Dean e ao Sam.

Quem tem Warner, sabe que Supernatural passa logo após Vampire Diaries, a diferença principal é que Supernatural é uma série com uma concepção original, se não completa, em sua maior parte, enquanto Vampire Diaries é mais um passageiro do bonde das vampiretes pilotado por Edward "tenho alergia a vaginas" Cullen; Vampire Diaries não passa portanto de um pseudo-produto, um caronista num carro que no momento está(va) ganhando a corrida comercial, assim como são todos os outros produtos de vampiros que surgiram recentemente. - Não estou dizendo que eles são ruins (embora sejam em sua maioria, releituras e paródias do original bem-sucedido), alguns podem até (e não duvido) ter mais qualidade do que o messias da febre vampírica, que, juntamente com os coloridos e justin bieber tem assolado a nação. (Oh My God #Janicefeelings, imagine uma fusão dessas febres: Um vampiro infanto-juvenil vestido como uma fusão de todos os ursinhos carinhosos, que fala igual um gângster, tem alergia a vaginas, brilha no sol e bate a cabeça em portas de vidro! É o fim, irmãos! É o fim!)

Bom, mas voltando, depois dessa imagem que vai ficar na minha mente por todos os séculos: Supernatural não é um caronista, não é ninguém que pegou rabeira no sucesso de outrem, Supernatural foi uma aposta (obviamente os produtores perceberam que havia um potencial lucrativo, ou Supernatural seria só uma boa idéia), alguem teve uma idéia que merecia ser explorada e essa idéia resultou nessa excelente série. Aliás as boas séries são séries que exploram alguma idéia que não foi explorada, ou não foi explorada daquela maneira e é isso que faz delas grandes séries. Basta procurar séries com elementos como os de Rescue Me, Sons of Anarchy ou House. Essas são as séries que valem a pena ver, justamente porque elas buscam sair do lugar comum, elas não seguem uma tendência que dá certo, elas alçam vôos maiores por conta própria.

Não vou negar que gosto de séries que seguem modelos pré-fabricados, também não vou negar que eu sei que VD e outras séries "twilight-like" não tem a mim como público-alvo. Mas mesmo nas séries que eu gosto e seguem modelos pré-fabricados, eu preferiria que não seguissem. Bastava apenas originalidade, se todas as séries fossem mais originais, ver televisão seria uma experiência muito melhor!

E pra falar a verdade, esse post todo foi feito porque eu gostei da frase sobre o "bonde das vampiretes..." Mas eu acho que até é uma discussão interessante.

Infelizmente, como no caso da música, ganha o que dá mais dinheiro, não o que é mais bem pensado/original/tem mais conteúdo.

I love it loud \,,/

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Por um rock mais delinquente.

Howdy, faz pouco tempo não? Nem vem muitas pessoas aqui ler, mas eu gosto de escrever aqui do mesmo jeito, e vou tentar manter os posts mais frequentes, e também vou parar de falar de assuntos pessados porque dá trabalho porque não vou mudar nada anyway.

Vamos voltar a falar de música, mas antes vamos deixar uma coisa bem clara aqui:
Eu não sou um cara exatamente eclético, apesar de gostar de blues, folk, jazz, música folclórica irlandesa e dos países norte europeus, j-rock, punk, rockabilly, metal, ska, grunge e indie. Se forem perceber, a maior parte do que eu disse é rock.

Bom, let's go: Eu AMO rock, o rock é mais ou menos 80% da minha vida, as letras, as melodias, os instrumentos, significam muito pra mim, eu realmente me preocupo em conhecer a história, em entender os conceitos por trás das composições, a biografia das bandas... E de uns tempos pra cá, tem havido uma tendência do rock, algo que não pode acontecer: O rock tem sido domesticado!
As novas bandinhas não têm intuito, não têm revolta; e não digo só essas coisas ridículas que se chamam de rock, como restart e fresno, até mesmo boas bandas de indie não tem revolta.
O rock sempre foi marcado por ser um estilo transgressor, Elvis chegou a ser filmado apenas da cintura pra cima por causa da sua dança característica, o The Doors foi proibido de tocar no Ed Sullivan Show depois de uma apresentação lá, as bandas de metal sofreram constantes manifestações de repúdio da sociedade moralista. E cada movimento "anti-rock" apenas fazia o rock voltar com mais força; o Black Sabbath foi duramente criticado, e acabaram por surgir Judas Priest, Iron Maiden, Diamond Head e tantos outros, interessados em transgredir, em se rebelar, em nadar contra a maré...
Mas isso foi diminuindo, ao ponto de hoje em dia as bandas serem aceitas pela mídia que um dia as criticou, o rock não é isso, o rock é o grito de liberdade da juventude, o último marginal indomado.
Eu sei dos interesses econômicos que envolvem toda essa transformação, mas eu não gosto dela, faltam bandas que tenham raiva, que tenham rebeldia, que tenham algo a dizer pra essa sociedade que nos domestica de maneira tão implacável.

E esse é outro problema das bandas atuais, falta uma mensagem a passar, não sou ingênuo de achar que os milhares de grandes músicos estavam na música só pra serem os estandartes das insatisfações da juventude, eles também queriam ganhar dinheiro, mas a diferença era a idéia que se tinha disso, antigamente era: "Vamos tocar isso, porque nós gostamos, e se nos pagarem ótimo!", hoje em dia é: "Vamos tocar isso porque nos pagam e se nós gostarmos ótimo!". Essa mentalidade a meu ver é extremamente errada, eu sou um romântico incorrigível nesse ponto, em relação ao futebol e à música, eu tenho a forte crença de que o talento e a qualidade devem vir antes do dinheiro. Que o diga Steve Harris(baixista e fundador do Iron Maiden), que nos primórdios da carreira ouviu de um produtor: "Vocês são muito bons! Se cortarem os cabelos e fizerem um som mais punk, terão um contrato.", ao que o produtor ouviu um sonoro: "Foda-se! Nós tocamos metal."

Não há mais essa atitude hoje em dia, apesar de motivos não faltarem, as bandas não ligam pra transgressão, em sua maioria, e as que ligam acabam fatalmente sem ter o espaço merecido justamente por isso.

When it comes to música, eu acho que se deve fazer o que se acredita, o que se gosta, e investir nisso, e não na chance de ganhar porrilhões de dinheiro.

A pior parte disso, é que os medalhões, aqueles que se mantiveram fiel a essa rebeldia, têm sucumbido ao julgo do tempo, e não irão continuar conosco por muito tempo; dentro em breve faltarão músicas que nos façam pensar e bandas que tenham conteúdo a oferecer...

Deixo aqui esse manifesto, esse desabafo, por um rock mais delinquente.
I love it loud. o/

quarta-feira, 5 de maio de 2010

His name was Valentine, had a job that was just fine...

Howdy meu povo! Novo post de opinião, quem sabe vocês me vejam mais aqui de agora em diante...(ou quem sabe não. HÁ!) Brincadeiras à parte, hey ho let's go!(Tá, agora é sério mesmo.)

Segunda-Feira 03/05/2010, fui fazer minha primeira matéria jornalística, uma entrevista com nada mais, nada menos do que Celso Unzelte! (se você não sabe quem é, descubra aqui - apesar de que aí tem pouca coisa.)

Bom voltando, eu e meu amigo Mateus fomos até São Paulo de ônibus, pegamos o metrô e fomos até a redação da MELHOR EMISSORA DE ESPORTES DO BRASIL, vulgo ESPN.
Já era um feito estarmos ali, nenhum de nós esperava conseguir isso no primeiro bimestre da faculdade; durante o almoço, quem passa na frente do restaurante? Ninguém menos que PAULO VINÍCIUS COELHO!!! (quem não conhece o PVC se mata. descobre aqui - mesma coisa do Celso Unzelte) Não bastasse ele ser super simpático e tudo, ainda de quebra ele aceitou nos dar uma entrevista no segundo semestre, o que significa que We're on fire, bitch! O Pvc, depois de conversar com a gente disse que depois da nossa entrevista, nós poderíamos assistir a gravação do programa que ele ia fazer, pra quê, eu e o Mateus ficamos parecendo criança em dia de aniversário...
Logo em seguida passou o Gerd Wenzel, alemão naturalizado brasileiro que comenta o futebol alemão (dã .-.), outro que foi super simpático, tiramos foto, conversamos e tudo.
Depois do almoço fomos pra ESPN, na frente da redação Pvc e outros jornalistas trocavam figurinhas da copa (preciso comprar o albúm, preciso comprar o albúm, preciso comprar o albúm...), nós entramos e ficamos esperando o Celso terminar de gravar pra poder nos receber, enquanto isso, vimos outros caras muito bons passando, o Pvc passou por nós indo gravar o programa e reiterou o convite, logo em seguida o Celso chegou e depois de uma conversa amistosa, fomos fazer a entrevista.
Primeira experiência como jornalista e uma certeza, eu nasci pra isso! Não porque eu fui bem demais, mas porque cada pergunta me deixava mais animado, cada resposta era uma alegria a mais, eu lembrava de como foi pra chegar ali, cada parte daquele todo me animava, ser jornalista é com certeza o que eu quero fazer pro resto da vida!(e ser músico, e ser escritor...)
Depois de quase uma hora, a entrevista feita, mais um pouco de conversa e ele aceitou nos levar pra assistir a gravação do programa do Pvc, o Bate-Bola, e lá fomos nós, assistir a quase uma hora de programa logo atrás dos câmeras e de quebra conhecer João Carlos Albuquerque, outro cobra do jornalismo esportivo brasileiro. Tietagens à parte de novo, tiramos fotos do estúdio e resolvemos conhecer um pouco a redação, andamos por lá durante algum tempo, tempo aliás, suficiente para encontrarmos Paulo Soares, mais um fera; mais tietagem e finalmente resolvemos voltar pra casa, com a felicidade de uma missão cumprida, a alegria de uma criança e a certeza de que haviámos encontrado nossa vocação.




Paulo Vinícius Coelho, maior jornaliste esportivo do Brasil atualmente.






Gerd Wenzel, vai Alemanha /o/





Celso Unzelte, o alvo.





João Carlos Albuquerque, a fera.




Paulo "Amigão" Soares, narrador, jornalista e SÃO PAULINO!

Bom meu povo, é issae, foi um grande dia e valeu cada minuto.
I Love it Loud. o/

sábado, 1 de maio de 2010

Sobre cores e coloridos.

Howdy meu povo, finalmente um novo post de opinião, a verdade é que eu tinha um monte de contos que eu parei no meio e me deu preguiça de continuar. (Queria ler mais? Reza pra algum dia sair um livro meu.)

Vamos falar de um assunto bem legal: O recente acréscimo cromático que a música popular vem sofrendo, vulgo, os coloridos do rock.
Eu nasci em 92, então não cheguei a ver muitas das melhores bandas do mundo em seu apogeu, mas por sorte eu me tornei uma pessoa de bom gosto o suficiente pra aprender a apreciá-las.
Recentemente tem havido o surgimento da coisa mais escrota dos últimos tempos: O "Rock" Colorido. (Usei as aspas porque nem fodendo aquela porra é rock.)
Para quem não sabe o que é, imagina a tosquice do fresno ou do nx zero se fundindo com os power rangers, ursinhos carinhosos ou teletubbies; Pronto! Você tem uma banda de coloridos, que não são mais do que emos policromáticos e mais dançantes.
Eu não cheguei a crescer com os grandes medalhões do rock que eu idolatro (Fuck, O Kurt Cobain morreu quando eu tinha dois anos), mas eu aprendi por experiência própria a apreciar a música bem feita, não digo estruturalmente, já que o punk por exemplo nunca foi um estilo virtuoso, mas bem feita no sentido de conteúdo. Os músicos antigamente tinham uma mensagem a passar, algo de importante a dizer, coisa que parece que sumiu, não excluo que os músicos mais antigos queriam ganhar dinheiro, mas acima disso, havia um comprometimento com a qualidade do trabalho, coisa que foi erradicada, hoje em dia basta fazer sucesso, foda-se se uma geração inteira vai ser tão estúpida quanto um ovo cozido, nós queremos é o dinheiro.

E o pior é a molecada realmente achar que a música é boa, defender o gosto e tudo, dizer que quem critica está "com inveja do sucesso do Cine/Restart/Qualquer-banda-ridícula-que-é-resultado-de-falta-de-surra-quando-era-pequeno.". Primeiramente pivetaiada pão-com-ovo que gosta dessas bandas purpurina&gliter, sucesso não é igual a talento, vide parangolê, calypso e todo o resto das porras que abundam pelo mercado fonográfico brasileiro e/ou mundial; segundamente, não é inveja, é tipo quando você vê um jogador muito ruim jogando no seu time do coração, o rock é o nosso time e vocês, emos/coloridos/qualquer-coisa-que-não-sabe-ser-gay-com-dignidade, são o pior jogador que a humanidade já viu, até surgir uma modinha pior que vocês.



Pelo menos eu cresci vendo bandas como The Killers. The Strokes, Artic Monkeys, fazerem sucesso, elas não são do nível de Stones, Motörhead, The Clash ou The Who, mas com certeza representam o objetivo do rock.

O que nos traz outro ponto importante: O Objetivo do Rock.
Qual o objetivo do rock? Bom vamos ver:
"O Rock and Roll é a marcha marcial de todos os delinqüentes juvenis sobre a face da Terra." Frank Sinatra
O Rock é sobre revolta, sobre romper com a sociedade e os valores vigentes, sobre rebelião e insatisfação. Qual é a revolta dessas bandinhas coloridas? Sobre haverem roupas que os homens não podem usar (tipo calcinhas)? Revolta contra "este mundo monocromático, frio e cruel" (de cu é rola)? Sinto muito coloritubbies, nunca serão.

A própria história mostra quem vai ficar e quem vai ser esquecido, Stones lota estádios onde vai, Iron Maiden foi considerada a melhor banda ao vivo DA HISTÓRIA, qual foi a contribuição dos emos? A aceitação da sociedade ao bissexualismo entre grupos de pré-adolescentes? E a dos coloridos? A descoberta de novas combinações de cores pras pessoas usarem as roupas? É, o rock não morreu, mas tem alguns infelizes que não desistiram.

Deixo vocês com uma reflexão:

Bom uso das cores.



Mal uso das cores.


I love it loud. o/

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A hard rain's a-gonna fall. - Parte 2 -

Acordo com o celular tocando, mas não estou afim de atender, noite bem dormida dessa vez, cortesia dos bons e velhos amigos: Johnnie, Jack, e Jim, os únicos amigos pra qualquer hora, a dor de cabeça agora é até um preço pequeno a pagar, e nada cura melhor uma ressaca do que beber de novo; Levanto e caminho até o banheiro, tomo banho, e escovo os dentes, me visto e saio.
Caminhando pela rua, vejo quem me ligou: Axys. Ligo pra ele de volta, e a voz fina e tremida atende do outro lado.
- Porque não atendeu antes Russel? - ele reclama.
- Porque a porca gorda da sua mãe estava por cima e eu não consegui alcançar o celular, filhão, a propósito você vai ganhar um irmãozinho.
- Anda pegando porcas gordas agora, Jack? - ele dá um risinho. - Que seja, passe aqui, achei o que você queria, e agora quero meu pagamento.
- Vou depois que tomar café, Axyl. Sempre o bacon em primeiro lugar. - desligo.

Chego na loja de penhores do Axyl uma hora mais tarde, parei antes e fiz umas apostas no jogo do Liverpool, se o plano der errado e eu morrer, pelo menos não vou precisar pagar, abro a porta e vou até atrás do balcão, Axyl está esperando do lado de dentro.
- Senhor, não pode entrar aí. - o balconista começa, garoto novo, mas hoje não acordei bem, minha cabeça está latejando, provavelmente não bebi o suficiente de manhã.
- Volte pra porra do balcão, você não me viu aqui. - falo lentamente, minha voz soa anti-natural, estranha, ele se vira e obedece sem uma palavra, entro na parte de trás da loja.
- Gastando magia com balconistas, Russel? Ele tinha instruções para te trazer para cá, era só se identificar. - Axyl me cumprimenta rindo.
- Foda-se Axyl, o que tem para mim?
Ele me joga um papel com um nome e um endereço rabiscados apressadamente.
- Aí está, o que você me pediu.
Entrego para ele a página do grimório, e começo a ler o endereço.
- Porque a letra está tão ruim Axyl?
- Digamos que eu tive que ser persuasivo. - Ele sorri mostrando os dentes pontudos.
- Você me dá nojo.
- Você fala como se fossemos muito diferentes, não Jack.
Me levanto e vou saindo, quando me viro e digo:
- Lave esse rabo nojento Axyl, você está fedendo a enxofre.
- Háháhá, você é hilário Russel.
Apago o cigarro na antiguidade que parece mais cara por ali e vou embora ouvindo ele me xingar.

Subo no táxi e sigo em direção ao endereço que recebi,de repente eu consegui avançar uma base, faltam duas.
- Obrigado, fique com o troco. - pago o taxista e me vejo em frente a uma casa que aluga quartos, a casa é velha e um pouco mal-cuidada mas parece aconchegante. Acendo um cigarro e toco a campainha, uma senhora idosa atende.
- O que deseja senhor?
- Procuro um velho amigo, o padre Artur Baldwin, a senhora o conhece?
O rosto severo da senhora se abre num sorriso sincero quando ela reconhece o nome.
- O padre Arty? Oh meu bem, ele saiu mas deve voltar logo, vamos, entre, saia do frio, pode esperá-lo aqui dentro.
Sorrio e entro, tirando o sobretudo e pendurando-o no cabide ao lado da porta, vou até a cozinha onde a velha senhora lavava a louça e assava um bolo.
- Quer dizer que é amigo de Arty? De onde se conhecem? - pergunta ela animada enquanto me serve uma xícara de café.
- Fomos ao seminário juntos, mas fazem muitos anos que não o vejo desde aquela época.
Ela sorri mais ao ouvir isso e me serve um pedaço de um bolo que repousava na pia.
- E qual o seu nome, padre?
- Padre Jack Russel, senhora. - respondo sorrindo enquanto meu estômago da cambalhotas.
- Prazer padre, sou Amelia Johnson, mas pode me chamar de Amy. Como ficou sabendo onde padre Arty estava hospedado?
- Com alguns amigos dele da igreja, eles me disseram isso. - quando Amy se vira, eu batizo o café com whisky.
- Ele é tão bom não é? Ele me disse que não fica numa das acomodações da igreja porque não gosta de se isolar das pessoas, ele diz que um bom pastor vive junto do rebanho. - ela sorri com os olhos brilhando, tenho que admitir que esse cara é bom.
A sineta da porta se abrindo me salva de mais dessa lambição de saco pra cima desse cretino, ela sorri ao ouvir o barulho e diz:
- Deve ser ele, vou chamá-lo para o senhor.
Escuto passos e em seguida um homem que deve ter seus quarenta e cinco anos, com início de cálvice e uma leve barriga entra na cozinha, ele me olha assustado.
- Arty, seu bode velho, lembra de mim? Jack! - ofereço um sorriso, mas meu olhar deixa bem claro que não vim fazer amizade e que é bom ele entrar na dança.
- Jacko! Que saudade! - ele se adianta e aperta minha mão, então me olha sério. - Temos muito que conversar, Amy, por favor não nos incomode, e me leva até seu quarto.
Ao entrar ele fecha a porta tranquilamente e a tranca, depois se senta na cama e põe as mãos sobre o rosto.
- Está bem, - ele diz - eu sabia que isso ia me morder o calcanhar mais cedo ou mais tarde, então, - ele se vira para mim - qual o tamanho da encrenca, vocês vão me processar por denegrir o nome da igreja?
- Relaxe rapaz, sou tão padre quanto você, - eu falo acendendo um cigarro - mas você acertou metade, uma encrenca, e ela é tão grande que provavelmente daria para ter uma conferência da ONU em cima dela.
Ele me olhou apavorado e começou a suar frio, escondeu o rosto nas mãos e engasgou.
- Você veio por causa das aparições?
Sorri ao ver a cara de desespero dele e disse:
- Sim, vim por causa delas, você acabou de confirmar minhas suspeitas, você tem idéia do que fez?
- Agora eu tenho - ele balbuciou.
- Agora é tarde, pessoas morreram por sua causa, eu nem devia estar aqui, devia deixar você enlouquecer e morrer, mas morrer é uma coisa muito gentil pra você. Vou te salvar, se você concordar em pagar o preço.
- Eu concordo, eu concordo, o que quer que seja eu concordo, só me diga o que fazer. - ele agarra meu paletó desesperado, os olhos já começaram a ficar desvairados, se eu tivesse demorado um pouco mais não haveria o que salvar.
- Muito bem, - eu sorrio - mas não se esqueça dessa promessa. Encontre-me hoje a noite, neste endereço. - rabisco um local num pedaço de papel e o entrego.
- Mas não se esqueça que você irá pagar pela merda que você fez.
Ele assente com a cabeça em silêncio, eu me viro e vou embora.
No Hall de entrada Amy me vê saindo.
- Já vai padre Jack?
- Sim querida, minha paróquia é longe daqui, só vim ver Arty e já vou embora.
- Entendo, volte quando puder, sim?
- Prometo que volto. - eu sorrio e aceno um adeus, saindo para a rua, está caindo um aguaceiro de novo, mas vou andando hoje, preciso pensar...
- I'm a-goin' back out 'fore the rain starts a-fallin'... Mr. Dylan sabia o que estava falando...

Bom, tudo que eu pensava estava se provando certo, e era hora de me preparar, cheguei em casa encharcado e tomei um banho quente, me vesti e acendi um cigarro, bebi meia garrafa de scotch, peguei o que eu ia precisar e sai.

Uma hora depois me encontro com o pobre e apavorado falso padre numa área de construção, ele treme dos pés à cabeça no seu casaco de lã, ele ainda usa a estola e o crucifixo, e têm nas mãos uma bíblia.
- Olá padre. - cumprimento-o com um aceno de cabeça.
- Como pode estar tão tranquilo? - ele me pergunta apavorado.
- Porque eu não sou você. - respondo com um sorrisinho, acendendo um cigarro.
Tiro um giz avermelhado do bolso e desenho um círculo com vários símbolos dentro, o círculo não ficou perfeito, mas vai servir, mando ele pisar no centro e ele pisa tremendo, me afasto e sorrio para ele.
- O que é isso? - ele pergunta apavorado.
- Só confie em mim. - eu sorrio. - Não é como se você tivesse escolha mesmo certo?
Ele range os dentes, eu puxo um pergaminho velho de um bolso do sobretudo e começo a recitar as palavras escritas ali.
- Repita as três últimas palavras depois de mim: Ash nâzg thrakatûluk.
Ele repete com a voz trêmula, e o círculo de giz brilha com uma luz vermelha que se estreita até circundar apenas o pobre coitado., um barulho alto é ouvido nas trevas ao nosso redor e o cara quase começa a chorar.
- É por isso que eu adoro meu trabalho. - sorrio. - Àqueles que caminham na sombra sem fim, revelem-se!

Uma luz sobrenatural faz aparecer os causadores daquele barulho, são todas as quatro pessoas para as quais ele deu a extrema-unção. Elas parecem levemente translúcidas, mas ao mesmo tempo sólidas, elas não são fantasmas, são rancor, eu sorrio e rilho os dentes.
O falso padre se apavora e corre pra longe, saindo do círculo, bastardo desgraçado, era o que eu precisava, mais uma pessoa pra me preocupar, porque ele não pode ficar no círculo de proteção? Corro atrás dele para salvá-lo e tento empurrar uma das formas de rancor, ela me afasta com um safanão me fazendo voar cinco metros.
Eu aterrisso com um baque dolorido, me sento no mesmo lugar que cai e procuro a garrafa e os cigarros... Perdi, e meu terno está todo amarrotado... É por isso que eu odeio meu trabalho!
O coitado está cercado pelas formas de rancor e só consegue implorar perdão em gritos estrangulados, não vou negar que ele mereça isso, mas não está em minha posição julgar... Por enquanto. Me levanto e pego o isqueiro no meu bolso, acendo ele e faço dois círculos ao redor de mim, as chamas crepitam no ar me circundando, vão ter que servir.
Corro até o lugar em que ele está cercado e me atiro contra uma das formas de rancor, ela solta um grito rasgado e eu passo por ela, ficando com o padre cercado por aquelas coisas nojentas, faço os círculos de fogo circundarem ao padre e me viro para ele.
- Tem um cigarro aí?
Ele me olha espantado e grita:
- Um cigarro, olha o tamanho da merda em que a gente tá e você quer um cigarro??
- Bom, um grimório também ia ajudar, mas você não anda com um, e eu menos. E o cigarro? - sorrio.
Ele dá de ombros e me entrega o cigarro, eu acendo e viro pras formas de rancor:
- Já sei do que vocês precisam, calminha rapazes, vocês já vão conseguir!
Tiro um pequeno frasco de um dos bolsos do casaco, pelo menos ele eu não perdi quando brincaram de lançar o Russel.
- Você vai beber agora? E eu confiei em você! - o padre reclama.
- Muita gente comete esse erro. - sorrio e jogo o conteúdo do frasco nas formas de rancor, o lugar onde elas são atingidas começa a brilhar e elas soltam um grito estrangulado de ódio, uma delas estende a mão pra mim e me toca no peito, uma dor fria e perfurante corre pelo meu corpo, eu me contorço, com a mão que está livre eu alcanço no meu bolso uma estola e a enrolo no braço, então mergulho ela num dos círculos de chamas que circundam o farsante, a estola pega fogo com uma luz dourada e eu a uso para afastar as formas de rancor, que ganem ao toque daquelas chamas, sem poder parar para respirar, termino de ungir as formas de rancor, e juntando o que me resta de resistência, digo bem alto:
- Por esta santa unção e por sua grande misericórdia, Deus te perdoe tudo que fizeste de mal. - Está feito, agora é torcer para o talvez do padre e meu palpite estarem certos...
Caio de joelhos, ofegante e vejo uma das formas de rancor estender a mão para mim, pelo visto eu estava errado, que jeito idiota de morrer, salvando um padre de mentira... começo a rir incontrolavelmente, a forma de rancor se aproxima e eu não consigo parar, é irônico demais, ela estende seu braço para me tocar, e de repente explode num brilho branco, desaparecendo com um urro gutural.
O susto me faz parar de rir, me levanto e vou procurar meus cigarros e meu frasco de whisky, acendo um cigarro e volto até o padre, ele me olha nos olhos e balbucia.
- Muito obrigado senhor, muito obrigado mesmo, o senhor salvou minha vida e minha sanidade, eu lhe devo tudo...
- Epa, eu tenho um preço padre, lembre-se disso, você vai me xingar antes do fim do dia...
- Não importa, eu pago, não interessa o que seja.
- É mesmo? Bom saber. - eu sorrio. - Losfers! - eu estralo os dedos, de repente muitas pessoas translúcidas aparecem diante do padre.
- O que é isso? - ele exclama apavorado.
- Eu disse para você ter calma padre, esse é o meu preço, pessoas morreram por sua causa, agora você vai carregar nas costas a vida delas.
- O que? O que quer dizer com isso?
- Todos temos crimes, e todos pagamos por isso, esse é o pagamento que você vai fazer.
- E você, Jack Russel? Não tem crimes? Não paga? Em que posição você acha que está para julgar os outros?
Eu sorrio, e olho para o céu antes de responder:
- Na posição de maior criminoso dentre todos que já conheci...
- Você só pode estar brincando. - ele me diz descrente.
- Eu não brinco em serviço padre.
- Mas você brincou o tempo todo!
- É... Bom... Eu não trabalho também. - sorrio
Ele me olha com desconfiança e diz:
- Não vai dizer mais nada?
Jogo a bituca de cigarro no chão e olho para ele:
- Sabe se o Liverpool ganhou o jogo? - Sorrio ironicamente.

O padre foi embora, naquele mesmo dia, antes de eu poder ir falar com ele de novo, ele fez as malas e sumiu no mundo sem nem dizer para ninguém para onde iria...
- Não sabe se ele volta? Ou pra onde foi?
- Não sei, sinto muito Amy, algo muito sério deve ter acontecido.
- Espero que ele esteja bem... - a pobre senhora está mesmo triste.
"Ele nunca estará" - Eu também espero Amy.
- Obrigada por vir, padre Russel, não vai entrar mesmo?
- Não, estava só de passagem, adeus Amy.
- Adeus padre, bom dia.
Olho para o céu de novo, acendo um cigarro e sorrio ironicamente quando um pingo de chuva me atinge no rosto.
- É, uma chuva pesada vai cair...
Vou embora, caminhando pelas ruas cinzentas e melancólicas de minha amada Londres.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Envelhecer é uma coisa injusta.

É meu povo, pros poucos que lêem esse blog(e nem sequer se importam em comentar), recentemente me dei conta de que envelhecer é uma coisa injusta, e todo mundo vai concordar quando eu falar aqui o porquê.

Há 15 anos atrás, quando eu fazia bolhas de saliva com a boca, só ouvia coisas do tipo: "Ah, olha que belezinha".
se eu faço isso agora, escuto coisas do tipo: "Olha o retardado ali."

Quando eu tinha 5 anos, se eu saia correndo e pulava na piscininha, todo mundo achava legal, se eu faço isso agora que tenho 18 anos, o salva-vidas me olha feio.

Quando eu era pequeno e fazia xixi na cama, meu pai me abraçava, falava que acontece e tirava o lençol pra lavar.
Se isso acontece agora, meu pai me olha, diz que eu preciso de um psicólogo e eu que me vire pra lavar o lençol.

Esses são alguns exemplos de porque envelhecer é injusto, se alguém tiver mais, poste aqui nos comentários

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A hard rain's a-gonna fall - Parte 1 -

Eu acendo o cigarro e olho pela vitrine do restaurante, são oito da manhã de mais uma maldita noite mal dormida, a garçonete de meia-idade me serve mais uma xícara de café enquanto sorri com os dentes tortos sujos de nicotina, e eu finjo não notar olhando pelo vidro empoeirado com o letreiro EARL'S até que ela vá embora; bom, pelo menos eu ainda tenho bacon.
Eu tomo um gole da xícara de café e olho de novo a primeira página do jornal, "MAIS TRÊS SE MATAM APÓS ENTERRAR ENTE QUERIDO.", é essa maldita matéria que tem me feito dormir mal já há quatro noites... não que eu dormisse bem antes, mas de qualquer jeito... Tem algo acontecendo aqui, eu sei, chame de instinto, de sexto sentido, da porra que você quiser, eu chamo de "uma sensação de que algum bastardo está se metendo onde não devia", e eu tenho andado a noite pelo cemitério onde os fulanos e suas famílias de kamikazes foram enterrados tentando descobrir algo já há quase uma semana e nada, nessas horas queria que os classificados anunciassem esse tipo de merda: "Fantasma de Estuprador atacando na rua 34", ou qualquer droga desse tipo...
- ...nhor? Senhor?
Um garoto interrompe minha linha de pensamentos, bom, tanto faz, eu só ia ficar amaldiçoando algo ou alguém mesmo.
- O que é garoto? - Pergunto tirando os olhos do jornal.
Ele me olha apreensivo, parece desconcertado, tem uma garota da mesma idade olhando pra ele do balcão, namorados, devem ter vindo tomar café juntos, ele abaixa os olhos e respira fundo antes de dizer:
- Senhor, podia apagar o cigarro por favor? Eu e minha namorada somos contra o mal que o cigarro faz, e o senhor está nos tornando fumantes passivos.
- Isso não é um cigarro garoto, é só uma ilusão, assim como todo esse restaurante, agora, se você fechar os olhos e se concentrar e sair correndo por aquela porta enquanto conta até trinta, eu garanto que todas as ilusões terão ido embora. - eu sorrio - Que tal se você tentasse isso?
O garoto se vira e sai, provavelmente pensando muitos xingamentos de mim, "inglês maldito!" e variantes, bom, tanto faz, acho que a única pessoa que se incomoda quando xingam os ingleses é a rainha, e eu não sou rico o suficiente, velho o suficiente ou inglês o suficiente, portanto eu não sou a rainha, na verdade eu também não gosto muito de ingleses.
Eu me viro e volto a ler aquela manchete, quando meu celular toca:
- Jack? Está aí? Jack?
É o reverendo Simmons, ele nunca é uma pessoa divertida, e menos ainda quando está falando ao telefone.
- Estou, reverendo, manda ver. - falo enquanto apago o cigarro.
- Tenho algo pra você Jack, algo que você vai gostar.- Ele faz uma pausa dramática, esses reverendos e padres nunca perdem a chance de fazer drama, até numa conversa de telefone. - Um dos familiares suicidas se deu mal...
- Ele morreu! Grande piada padre, precisava me ligar para contar ela, podia ter guardado até eu passar aí um dia desses. - respondo impaciente.
- Não, Russel, seu cretino, ele não conseguiu se matar ele está no Hospital de Misericórdia, quarto 32 se quiser saber, já que estava investigando resolvi avisá-lo, mas isso não me cheira bem, tome cuidado Jack.
- Você fala como se não me conhecesse, reverendo. - digo sorrindo.
- Pelo contrário, falo assim porque te conheço Jack. - ele desliga.
Levanto e saio do restaurante, enquanto acendo outro cigarro um mendigo se aproxima de mim:
- Me dá um trocado pra poder comprar alguma bebida e me esquentar irmão, o tempo parece que vai virar e esfriar logo logo.
Olho para o céu dando uma tragada no meu cigarro depois me viro para o mendigo: Ele costumava ser um comerciante que vivia bem, mas um incêndio lhe tomou tudo e ele nunca conseguiu se reerguer. Tiro uma nota de cinco dólares do bolso e lhe entrego dizendo:
- Tome, beba uma dose em meu nome, sim?
Ele se afasta enquanto o olho indo embora, todo mundo odeia viver na decadência, começo a andar em direção ao hospital quando vejo meu reflexo numa poça d'água no chão... Bom, nem todo mundo...
- É parece que vai chover... - murmuro.

Chego ao Hospital de Misericórdia e apago o cigarro, aqui um pouco de ironia não vai ajudar quando alguém reclamar do fumo. Tiro minha garrafa do bolso interno do sobretudo e dou um gole longo, sempre detestei hospitais, guardo a garrafa e entro.
Logo na entrada, sou surpreendido por alguns enfermeiros correndo com uma maca em que uma mulher de aproximadamente trinta anos se contorce convulsivamente, nos bancos de espera um garoto de no máximo dez anos segura o braço esquerdo quebrado, e uma ponta de osso sai da sua pele no meio do antebraço, passando pelo corredor térreo eu vejo um senhor de cinquenta anos vomitar sangue no chão ao lado da maca... Acho que é por isso que o nome do hospital fica só do lado de fora.
Chegando ao quarto 32, bato na porta, abro antes que alguém possa me proibir, e entro com um sorriso pacificador.
- Olá senhor, sou o Dr. Jack Russel, psicólogo do hospital, vim aqui ver como o senhor está.
- Jack Russel? O outro doutor tinha um nome diferente. - ele diz surpreso.
- Eu entendo, mas eu sou designado para casos mais dramáticos, e meu colega achou por bem me indicar para tratá-lo. - puxei um cigarro - Não se importa de eu fumar não é?
- Ah... Eu realmente acho que o senhor não deveria... - ele começa.
- Que bom. - acendo o cigarro e o olho nos olhos. - Então, por que decidiu puxar a tomada mais cedo?
- O senhor não vai acreditar se eu contar...
- Me teste, estou ganhando pra isso mesmo. - "besteira, mas ele não precisa saber."
- Bom após o enterro, durante umas duas semanas, meu tio aparecia pra mim, me amaldiçoando e me xingando.
- E o que ele dizia exatamente?
O homem me olhou nos olhos para ver se eu acredito, ele próprio não parece acreditar no que diz, mas eu acredito, como não poderia? Esse tipo de merda me segue a minha vida inteira, acho que é como dizem, todos temos um fardo pra carregar, e o meu é cheio de malditas agulhas.
O homem balbucia, engasga e enfim diz:
- Ele dizia que eu o havia condenado, que sua alma agora ia vagar por minha causa, e por isso ele ia se vingar de mim; Ele me atormentava todas as noites, não me deixava dormir, se lembrava de cada lembrança que eu tenho e gostaria de esquecer, eu comecei a perder a cabeça, e depois de tanto tempo, decidi puxar a tomada, como você disse...
- Que você o havia condenado? O que ele quis dizer? - "Isso não está me cheirando bem".
- Não sei, ele dizia que sua alma não teria descanso...
Apaguei o cigarro na cadeira e me levantei, olhei para ele e disse:
- Entendo, bom, o que quer que seu tio apareça para lhe dizer, não ouça, ao invés disso reze até que ele se vá, Deus vai te proteger, se você não morreu quando tentou o suicídio, é porque Deus ainda tem um objetivo para você. - Dei meu melhor sorriso de aeromoça.
Enquanto caminhava pela avenida procurando um táxi comecei a pensar. Deus não está nem aí para aquele imbecil, na verdade, Ele não está nem aí pra nada, o suicídio deu errado por que ele errou a quantidadede pílulas, e não porque alguém lá em cima gosta dele, mas ele não precisa saber disso, na verdade... acho que ninguém precisaria saber disso... incluindo eu mesmo.
- Táxi!
Subo no táxi e dou as coordenadas, acho que sei do que se trata, mas nunca se sabe, melhor conferir com um expert no ramo de mortes e descanso eterno, depois eu volto e vejo se o rapaz ainda está em um pedaço só...

A chuva piorou, já faz três dias que ela cai e para, cai e para, mas não dá um trégua decente. Aperto o sobretudo contra o corpo, saio do táxi e caminho até a igreja.
Entro na igreja, acendo um cigarro e dou um longo gole na garrafa de bolso, acho que esse é o único amigo que está sempre comigo, o bom e velho Johnnie, caminho pela nave quando o padre me ve e vem até mim.
- Fumando e bebendo em plena casa de Deus, Jack! - ele faz um gesto apontando o imenso cucifixo atrás do altar.
- Eu perguntei, ele não se importa. - respondo dando de ombros.
- O que você quer saber, Russel? - ele pergunta balançando a cabeça negativamente.
- Engraçado você achar que venho aqui por que quero alguma coisa.
- Você sempre quer alguma coisa, Jack, então o que é. - ele diz em tom acusador, me olhando com o olhar cansado.
- É isso, você não ganha mais cartão de natal. - "como se eu mandasse algum... ou recebesse." - Mas já que você mencionou, tem uma coisinha sim.
Eu conto pra ele o que o quase suicida me contou, quando termino o padre está boquiaberto.
- E então? - pergunto.
- E-eu não sei o que dizer, isso parece com a idéia que você teve mesmo, realmente tudo se encaixa, não consigo pensar numa teoria melhor que a sua.
- E como eu resolvo isso?
Ele olha para baixo, depois para cima, depois pra mim, algo me diz que não vou gostar da resposta.
- Acho que você deve fazer o que não foi feito direito, acho que se você fizer isso, pode dar certo, talvez...
- Talvez? É isso que você tem pra mim padre? Um "talvez"?
- É melhor do que nada, Jack. - ele sorri desconcertado. - Vou dar uma pesquisada e prometo que te ligo com informações melhores.
- Certo. - digo me virando para ir embora.
- Antes de ir Jack, não gostaria de doar algo para os menos afortunados? - o padre pergunta indicando uma pequena caixa ao lado da porta.
- Claro padre. - sorrio - Aqui está. - jogo quatro cigarros dentro da caixa.
- Cigarros, Jack!!!???
- É melhor do que nada padre. - me viro e vou embora pela porta sorrindo, nunca vi um padre xingar tanto assim.

Bom, táxi de volta pra casa e ainda não avancei nem da primeira base, espero que a bola rebatida demore pra voltar, porque essa merda parece complicada, se eles mantivessem registros desse tipo de coisa, ficaria mais facil, mas acho que vou ter que fazer do jeito antigo... Perguntando por aí...

- O-o-o o que quer, Russel? - o homem pequenino e careca, de olhos injetados e pele clara me olha tremendo dos pés à cabeça, não o culpo, nossos encontros não costumam ser dos mais amigáveis, pego ele pelo colarinho da jaqueta e digo com um sorriso:
- Relaxe Axyl, só quero conversar, não vai nem me oferecer uma cadeira?
Sorrio de novo enquanto ele corre alvoroçado pela espelunca que ele chama de loja, procurando uma cadeira, quando ele finalmente encontra uma, me sento e acendo um cigarro enquanto ele me olha inquisitivo.
- Por que você veio aqui? Estou tentando cuidar de um negócio, Russel. - ele faz um gesto abrangendo a pequena loja.
- O lícito ou o ilícito, Axyl? - pergunto sem olhá-lo. - Certo, vou falar de uma vez, quero informações, e você é o bastardozinho mais escorregadio que eu conheço, então vim falar com você.
- E o que eu ganho nisso? - ele aparentemente já perdeu o medo. Demônios são seres imprestáveis mesmo, mas é só empurrar um pouco.
- Ora, está bem. - dou de ombros - aqui, pegue. - estendo-lhe uma folha de pergaminho, com uma escrita ininteligível.
- Um pergaminho, Russel? Suas ofertas já foram melhores.
- Crise econômica, meu amigo, e se você lesse com atenção, perceberia que é uma página de um grimório.
- Jack, isso é sério?
- Sérissimo, meu amigo infernal, é só me dar as informações e isso é seu.
- E o que você quer saber? - ele se sentou, com os olhos mostrando um ávido interesse.
Tiro uma lista de nomes do bolso do sobretudo, e jogo para ele.
- Quero saber quem foi o padre que executou a extrema unção nessas pessoas, e preciso saber disso o mais rápido possível.
- Certo, isso não vai ser difícil...
Me levanto e vou caminhando até a porta, quando escuto:
- Fantasmas do passado, Russel?
Mostro o dedo médio sem me virar e digo:
- Vá para o inferno, Axyl. - e saio pela porta, é hora de correr algumas bases e tentar uma nova rebatida.