sábado, 19 de dezembro de 2009

Irmãos de Sangue - Capítulo 2 - E justiça para todos.

Scott Callahan atravessou a rua de terra batida cumprimentando cordialmente todos que via, os homens paravem e lhe erguiam os chapéus, e as mulheres curvavam a cabeça, Scott sorriu e abriu a porta do sallon, fazendo o barulho lá de dentro saltar para a rua e em seguida entrou e fechou a porta, selando o barulho.
Do lado de dentro, música e um vozerio disputavam espaço no ar abafado, garçonetes circulavam levando apalpadas indevidas, em um canto, homens jogavam pôquer e se acusavam de trapacear, sentado no balcão, um jovem tocava um violão animado, e cantarolava uma canção sobre um homem cuja mulher o deixara, na parte mais afastada do lugar, um homem sombrio bebia whisky direto da garrafa, parando de vez em quando para olhar em volta.
O barman viu Scott entrar e disse:
- Oh, reverendo, bem vindo de novo, Bobby está esperando-o na mesma mesa de sempre, e como andam os negócios?
- Bem, outra alma se arrependeu hoje. - Disse Scott sorrindo.
- Hahahaha, só o senhor, reverendo, - Riu o músico - pode propor um brinde? - Disse jogando uma garrafa de whisky para o reverendo e erguendo sua caneca de cerveja.
- Vamos ver... - começou Scott sem jeito - Alegria e paz para as famílias, prosperidade para os negócios, fartura para as pessoas e... e...
- E justiça para todos! - Ajudou o músico com ironia.
O saloon explodiu em risadas depois de ouvir aquilo, e o reverendo concordou, entre os risos.
- E justiça para todos. - E todos beberam
Aquilo era tudo uma piada, todos ali sabiam muito bem que a única justiça que se podia conseguir no Novo México naquela época era a que era feita com revólveres e carabinas, e essa justiça nunca chegava para todos, mas mesmo assim todos riram.

Numa das mesas de poquêr, Jack Donelly riu de novo quando percebeu o embaraço do reverendo.
- Eu gosto desse cara, só mesmo um reverendo para matar e parecer tão inocente mesmo assim. - Em seguida se virou para o homen a sua frente e disse - Vou cobrir sua aposta, e aumentar em 50 dólares.
O homem engoliu em seco e murmurou:
- Então eu vou pagar pra ver - E jogou 50 dólares na pilha que estava entre os dois.
- Muito bem, - sorriu jack Donelly - mostre as cartas.
- Flush. - disse o adversário mostrando cinco cartas da mesma cor.
- Uau. - Jack Donelly soltou um assobio, e colocou suas cartas na mesa, mostrando dois pares.
O outro homem sorriu e estendeu a mão para o dinheiro, mas a mão de Jack Donelly se estendeu e parou a sua.
- Que merda você está fazendo? - perguntou o homem
- Desculpe, - Jack sorriu - uma carta ficou presa na outra. - E dizendo isso puxou uma quinta carta debaixo de outra, formando uma trinca e um par. - Full house, então acho que isso é meu. - E deu uma piscadela para o seu adversário atônito.
- Você devia parar de fazer isso! - Disse uma garotinha ao lado de Jack.
- Ora, mas a cara de surpresa deles vale mais que o dinheiro. - disse Jack sorrindo - E é esse dinheiro que vai nos dar sustento até a próxima vez que precisarmos.
- Mas apostar é um jeito muito arriscado de viver, não acha? - A garota continuou.
- Se não tivesse risco não teria graça, Felicity. - Jack falou, como se aquilo fosse óbvio.
- Pai, como você é imaturo. - disse Felicity se levantandoe indo em direção a porta. - Vou rezar por mamãe, hoje é aniversário dela, está bem?
- Tudo bem querida, mais tarde eu irei até lá. - Jack deu um gole em seu copo de whisky e começou a juntar o dinheiro.

O barman se virou para o músico, e disse:
- Como disse que se chamava mesmo rapaz?
- Não disse, - Sorriu o músico - mas pode me chamar de Johnny Goode, nome artístico de John Brandon Goode. - estendeu a mão.
- E o que faz por aqui, Johnny Goode? - Perguntou o barman, apertando a mão que lhe fora estendida.
- O mesmo que o seu amigo apostador ali ou o senhor depressão sentado no canto escuro do saloon. - Riu Johnny. - Viajo, sem saber pra onde, sem saber por que, simplesmente viajo.
- Bom, enquanto estiver aqui, se animar meu saloon com sua música, terá comida de graça, Mr. Goode.
- Bom saber senhor, então vou começar agora. - E dizendo isso, pôs-se a tocar uma musica que falava sobre encruzilhadas.

- Hey bobby, como vai? - Disse Scott, sorrindo, ao se sentar na mesa.
- Scott, bem bem, e você mano? - Disse Bobby, com sua voz fraca e sumida, encolhido numa cadeira.
- Precisa de algo de novo? - Scott olhava com pena seu irmão, Bobby era frágil e covarde e vivia pedindo favores a Scott, sempre confusões em que ele se metia e não conseguia sair sozinho, mas apesar disso, Bobby era seu irmão, e Scott gostava dele.
- Bom, sabe como é, preciso de algum dinheiro, andei perdendo no pôquer de novo... - Bobby disse com um olhar furtivo para o irmão.
- De novo Bobby? Já lhe disse para parar de apostar, merda, por que não tenta arranjar um bom emprego pra variar?
- Hey, não é minha culpa Scott, eles devem ter me trapaceado, deve ser isso. - Bobby o olhou suplicante. - Vai me emprestar o dinheiro?
- Desculpe Bobby, não vai dar, está na hora de você consertar as bagunças que faz. - Disse Scott suspirando. - Vou falar com seus credores, que quando você tiver dinheiro você irá pagá-los, e você vai procurar um emprego.
- O quê??! Um emprego, grande ajuda a sua irmão! - E dizendo isso, Bobby se levantou e saiu pela porta.

O homem que ficara bebendo no canto se levantou, tirou uma nota de 10 dólares do bolso e entregou ao barman, e foi em direção à porta, lá chegando, abriu-a e deixou a jovem Felicity Donelly passar, Bobby Callahan se atirou pela porta aberta antes do homem poder sair, em seguida o homem saiu fechando a porta, e o burburinho do saloon continuou.
De repente tiros foram ouvidos, todos silenciaram, e Jack Donelly e Scott Callahan correram para fora, seguidos pelo músico.
Ao abrir a porta, encontraram Bobby Callahan e Felicity Donelly crivados de balas, já mortos, e um cavalo faltando, do homem que saira junto com eles não havia nem sinal.
- Por quê, por quê Felicity? No mesmo dia que sua mãe! Por que não fui eu? - Jack Donelly perguntava aos prantos.
Scott Callahan olhava o corpo de seu irmão sem saber o que fazer, não conseguia chorar, não conseguia ficar com raiva, sentia como se olhasse toda a cena de fora de seu corpo.
O músico se aproximou deles e disse:
- Eu sei quem fez isso.
Ambos se viraram para ele, e foi Scott Callahan que falou, mas sua voz soava distante, como se viesse de muito longe.
- Quem?
- O homem que saiu com eles. - Disse Johnny Goode. - Ele é um dos Quatro Cavaleiros, quando foi pagar o barman eu vi a marca feita a ferro no seu antebraço. Ele deve tê-los matado e fugiu em seguida.
- Mas porque? - Perguntou Jack Donelly, que segurava a cabeça da filha no colo.
- Isso nós só saberemos depois de pegá-lo, arrancar dele as respostas e em seguida matá-lo.
Ambos assentiram e se viraram para pegar cavalos. Então Jack se virou e disse:
- Como assim nós?
- Estou caçando esse bastardo a meses, obviamente vou com vocês. - Disse Johnny Goode. - Ele matou minha esposa. - Explicou.
- Mas você sabe usar um revólver? - Perguntou Scott.
- Revólver? Não. - Sorriu Johnny Goode. - Minha arma é o rifle. - E Dizendo isso, puxou um rifle de cano longo de um estojo que ficava embaixo do estojo de seu violão.
Os dois concordaram, Johnny foi até um terceiro cavalo, ao lado dos dois, os três montaram e cavalgaram até a entrada da cidade.

Os três se viraram para olhar a cidade, então Jack disse:
- Por vingança.
- E retribuição. - Continuou Johnny Goode.
- E justiça para todos. - Ironizou Scott

E dizendo isso, os três se viraram e sumiram na poeira do deserto.

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